quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

De Brevitate Vitae, Sêneca

Lucius Annaeus Sêneca, um dos célebres advogados, escritores e filósofos do Império Romano, foi um dos homens que influenciou profundamente minha vida. Mesmo tendo morrido há 1949 anos, ainda consegue instilar questionamentos filosóficos mundo afora. 

Li um de seus muitos livros "Sobre a brevidade da vida" há aproximadamente sete anos atrás, e me identifiquei com seus posicionamentos a respeito da avaliação do tempo, de si mesmo, da humanidade, e de tantas outras coisas ao longo daquelas brilhantes páginas.




É possível baixar o livro pela internet, em PDF, aqui Sobre a brevidade da vida, em PDF.

Cito alguns trechos marcantes da obra: 

"Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido. O fato é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores."

"...a vida, se souberes utilizá-la, é longa. Mas uma avareza insaciável apossa-se de um de outro, uma laboriosa dedicação a atividades inúteis, um embriaga-se de vinho, outro entorpece-se na inatividade; a este, uma ambição sempre dependente das opiniões alheias o esgota, um incontido desejo de comerciar leva aquele a percorrer todas as terras e todos os mares, na esperança de lucro; a paixão pelos assuntos militares atormenta alguns, sempre preocupados com perigos alheios ou inquietos com seus próprios; há os que, por uma servidão voluntária, se desgastam numa ingrata solicitude a seus superiores; a busca da beleza de um outro ou o cuidado com sua própria ocupa a muitos; a maioria, que não persegue nenhum objetivo fixo, é atirada a novos desígnios por uma vaga e inconstante leviandade, desgostando-se com isso; alguns não definiram para onde dirigir sua vida, e o destino surpreende-os esgotados e bocejantes, de tal forma que não duvido ser verdadeiro o que disse, à maneira de oráculo, o maior dos poetas: "Pequena é a parte da vida que vivemos." Pois todo o restante não é vida, mas tempo. Os vícios atacam-nos, e rodeiam-nos de todos os lados e não permitem que nos reergamos, nem que os olhos se voltem para discernir a verdade, mantendo-os submersos, pregados às paixões. Nunca é permitido às suas vítimas voltar a si: se por acaso acontecer de encontrarem alguma trégua, ainda assim, tal como no fundo do mar, no qual, mesmo após a tempestade, ainda há agitação, eles ainda assim são o joguete das paixões, e nenhum repouso lhes é concedido. Pensas que falo daqueles cujos vícios são declarados? Vê aqueles cuja fortuna faz acorrer a multidão: são sufocados pelos seus bens. A quantos as riquezas não são um peso! Quantos não verteram seu sangue por causa de sua eloquência e da presteza diária com que exibiam seus talentos! Quantos não estão pálidos por causa de seus contínuos prazeres!..."

[...]

São avaros em preservar seu patrimônio, enquanto, quando se trata de desperdiçar o tempo, são muito pródigos com relação à única coisa em que a avareza é justificada. Por isso, agrada-me interrogar um qualquer, dentre a multidão dos mais velhos: "Vemos que chegaste ao fim da vida, contas já cem ou mais anos. Vamos! Faz o cômputo de tua existência. Calcula quanto deste tempo credor, amante, superior ou cliente, te subtraiu e quanto ainda as querelas conjugais, as reprimendas aos escravos, as atarefadas perambulações pela cidade; acrescenta as doenças que nós próprios nos causamos e também todo o tempo perdido: verás que tens menos anos de vida do que contas.

O livro é pequeno, mas tem um conteúdo riquíssimo e deslumbrante!
Vale à pena lê-lo.


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