segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Canções impregnantes

E aí, de tanto cantarolar pelos arredores da vida real, nos meus momentos de absenteísmo do mundo adulto, decidi que gravaria tudo e a qualquer momento. Eu vivia cantando coisas sem sentido, como um rádio mal sintonizado, mas um ou outro verso encantava-me e impregnava o cérebro o resto do dia. O problema é que se eu deixasse que passasse o tempo e me obrigasse o esquecimento daquilo, dava certo, e eu esquecia. Mas um dia decidi gravar. Fui gravando e arquivando, sem compromisso comigo, cantando feio, desafinado, pelo nariz ou pela boca, com uns, lararás, lererês, palavras soltas e verbos inteiros. Depois ia montando o quebra - cabeça de palavras e sons. Quando me vinha apenas a melodia, era mais fácil costurar nela um texto poético e fazer uma canção. Quando vinham-me as palavras ou as frases inteiras, às vezes, demoravam dois ou três anos até que se completasse a ideia. Uma vez pronta, podia-se encher o peito de ar, com alívio. Depois, guardava-as nas pastas amarelas do notebook e escutava-as uma a uma, intermitentemente. As canções impregnantes viravam canções para serem visitadas a qualquer tempo, por qualquer emoção. 

Ainda perguntam-me como faço canção. Não toco sax nem piano. De violão sei pouca coisa.  
Digo que uma parte vem da cabeça e outra parte do coração. 
E é assim como construir uma casa. Pode demorar, mas se fizer com carinho e cuidado, fica bonita e boa de morar.







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