quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Discurso da saudade (Ubinzal e Abaixadinho)

Segredo mesmo. Não sabia que aquilo aconteceria tão rápido. O hábito de estar ali todas as terças-feiras fez com que eu esquecesse do que me esperava. Eu chegava lá, depois de uma longa viagem, sentava, trabalhava - às vezes, com calma, às vezes, depressa. Mas a cada semana, ia encontrando um olhar novo, um sorriso, uma lágrima, um repentino aperto de mãos. E as repetidas faces que ali adentravam e me encaravam, com suas falas prontas e aparentemente ensaiadas, tornaram-se permanentemente familiares. E aquele processo inteiro de ir, viajar um caminho longo, sentar-me na cadeira, ligar o ventilador barulhento, e revisitar aqueles rostos continuamente com seus sofrimentos constantes, fazia com que eu voltasse para casa com a sensação de ter levado sempre um retalho costurado à minha alma. E, assim, ao longo de meses, foram vários retalhos que se costuraram à minha alma. A partir daí, eu já conhecia a mágoa e a alegria de mauitos. Por mais que não fosse vizinha, parente ou agregada, a sensação era a de ser... Uma vizinha que morava longe. Como eram poucos, por mais displicente que eu pudesse ser, a lembrança de suas fisionomias, suas vozes, suas histórias, suas gargalhadas entremeadas por dores, ficavam presas em meus pensamentos nas viagens de retorno. Foi quando o suposto fim [porque tudo finda] começou a tornar-se doloroso para mim. Doloroso porque me apeguei a eles de maneira que nunca imaginei, em pouco mais de um ano. Doloroso porque esse processo de afeiçoamento foi tão sutil, que não deixou que eu o percebesse a tempo de esquivar-me. Não é que alguém tivesse demonstrado tão explicitamente que simpatizava comigo, mas as suas constantes presenças, com sua simplicidade e sua afabilidade fizeram com que eu simpatizasse com eles.

Vanessa L

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Quem realmente somos

Vamos esvaziar um pouquinho a mente das coisas superficiais e tentar pensar em quem realmente somos?

Talvez, se não chegarmos a ponto nenhum, a resposta alguma, talvez nos saciemos com aquela sensação de completude, quando não nos contorcemos com a obrigação de ser alguém e, sendo, a de fazer algo imposto por outrem.

Por que ser?
Por que ter?
Por que fazer?

Não.
Não há necessidade de nada.
De nada - a não ser de si mesmo. E pronto. Simples.
Cada dia um conto. Cada dia um processo, que finda quando o sono chega e os olhos cerram.

Gosto de ser quem sou. Tenho sensibilidade para ser quem sou. Os outros é que não têm.

Por ser médica, as pessoas que me contemplam (meus expectadores) esperam de mim uma postura similar a dos médicos que essas mesmas pessoas já conhecem. Essas pessoas esperam que um médico, aliás, um bom médico, seja bem vestido, tenha um I phone de última geração, tenha um toyota corolla, tenha um bom discurso, tenha os cabelos bem cuidados, etecétera.

Fujo disso - eu acho.
Mas vamos lá.
Deixo que me critiquem porque eu tenho um carro básico. Deixo que me critiquem porque meu celular não é um Iphone. Deixo que me critiquem porque não me visto como uma pavoa, tampouco falo como uma lady. Talvez eu esteja mais pra Lady Gaga...Enfim...

Ciente disso.

Meu foco é aliviar o sofrimento alheio. E faço isso com todo o meu coração. Ponto.

Vanessa L