domingo, 20 de abril de 2014

O significado do silêncio

Ele me ensinou tanta coisa, me amando do seu jeito imperfeito, por demais turrão. Pegava em meu braço com força, e me levava a realizar as coisas que eu venerava em sonhos. Chamava-me por "lunática" e emputecia-se com minha maneira estagnada de ser, a minha eterna procrastinação de tudo. Eu era assim. Gostava de ser sofredora, permanecer no "e se...". Talvez porque me sentisse mais segura, na minha aconchegante caverna. 

Amiúde, levantava a voz com fúria, alegando não conformar-se nunca comigo. Queria-me dinâmica, hiperativa, agressiva. Aprendi com ele a não chorar por tudo, a falar com firmeza quando fosse preciso, a emitir convicção mesmo não tendo certeza de nada. Ele me repreendia quando eu falava pra dentro, ainda mais quando cantava com aquele meu jeito sem fôlego. Ele falava as verdades na minha cara, sem rodeios e, às vezes, com as palavras mais chulas, como quem obriga uma flor a criar espinhos - muitos espinhos. 

A princípio, eu lamentava que o nosso affair tivesse tomado esse rumo. Depois, vi que eu necessitava daquilo. E, em certo ponto, quando ele apontava o dedo para mim, comecei a devotar atenção a cada palavra que ele proferia. Doía sim, mas eu as assimilava tim-tim por tim-tim. 

Compreendi que o nosso tempo estava esgotando-se, que era ele quem estava me ajudando a evoluir, e não o contrário. E eu precisava simplesmente ouvir e aprender. Era isso que eu devia fazer.

Nossos passeios foram tornando-se cada vez mais silenciosos. Cada vez menos mãos dadas, menos olhares, menos sorrisos. Nossas passos ficaram descoordenados. Eu sei que cedi. Precisei ter cedido. O meu silêncio era, então, uma espera de algo - uma nova crítica, um novo ensinamento, uma nova reprimenda. E quando também sua voz calou, eu entendi que ali era o nosso definitivo adeus.

Vanessa L

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