É claro que não poderia deixar de
falar dos dias em que tricotamos idéias sobre as rimas dos acordes na tua
guitarra. Lembre que algumas tiras de Sol furtivamente invadiram, pelas
venezianas da tua janela, o quarto semi - escurecido . Eu acho que foi por
esses dias que comentei sobre ela ser grande demais para um cômodo
tão pequeno. E tu respondeste que era proporcional ao calor que
sentias por baixo das mangas longas de profissão. Eu achei graça do teu olhar
apertado e da testa de preocupação. Ouvi de novo a canção do Snoopy deitada com
os pés em cima da cabeceira da cama. Fechei os olhos e cri que era tu
mesmo o personagem implícito na adorável melodia.
Queria ter estado ao teu lado
naquele outro dia, quando me ligaste de tão longe para falar banalidades.
Queria ter estado contigo quando criaste aquela
música, entrelaçar meus dedos nos teus, como aquela
vez, ainda no teu quarto, quando me confessaste um pouco de
ti, dos teus sete anos em Cuba, das tuas namoradinhas, de não saberes
tanto de Anatomia como eu pensava que tu sabias, das desavenças com tua
irmã, e do teu amor por mangás. Queria deitar no telhado contigo, sob uma
lua redondíssima, e sonhar aqueles teus sonhos tão cheirosos e
bons de serem sonhados. Queria roubá-los um pouco pra mim, porque
ultimamente ando sem sonhos. Será que tu me emprestarias um? Queria não me
preocupar com as pequenezas dos que me cercam e as promessas que por um
triz não me ludibriam. Queria me sentir protegida. Talvez tu me beijasses
longamente só para me fazer esquecer. E como era de costume, eu acalmaria. Mas
nunca mais esbarrei em ti. Tenho saudade do teu olhar. Tenho saudade da
idéia que eu tinha. A de achar que era tu o personagem da canção do
Snoopy.
Vanessa L (2009)
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