sexta-feira, 11 de abril de 2014

Canção do Snoopy


É claro que não poderia deixar de falar dos dias em que tricotamos idéias sobre as rimas dos acordes na tua guitarra. Lembre que algumas tiras de Sol furtivamente invadiram, pelas venezianas da tua janela, o quarto semi - escurecido . Eu acho que foi por esses dias que comentei sobre ela ser grande demais para um cômodo tão pequeno. E tu respondeste que era proporcional ao calor que sentias por baixo das mangas longas de profissão. Eu achei graça do teu olhar apertado e da testa de preocupação. Ouvi de novo a canção do Snoopy deitada com os pés em cima da cabeceira da cama. Fechei os olhos e cri que era tu mesmo o personagem implícito na adorável melodia.



Queria ter estado ao teu lado naquele outro dia, quando me ligaste de tão longe para falar banalidades. Queria ter estado contigo quando criaste aquela música, entrelaçar meus dedos nos teus, como aquela vez, ainda no teu quarto, quando me confessaste um pouco de ti, dos teus sete anos em Cuba, das tuas namoradinhas, de não saberes tanto de Anatomia como eu pensava que tu sabias, das desavenças com tua irmã, e do teu amor por mangás. Queria deitar no telhado contigo, sob uma lua redondíssima, e sonhar aqueles teus sonhos tão cheirosos e bons de serem sonhados. Queria roubá-los um pouco pra mim, porque ultimamente ando sem sonhos. Será que tu me emprestarias um? Queria não me preocupar com as pequenezas dos que me cercam e as promessas que por um triz não me ludibriam. Queria me sentir protegida. Talvez tu me beijasses longamente só para me fazer esquecer. E como era de costume, eu acalmaria. Mas nunca mais esbarrei em ti. Tenho saudade do teu olhar. Tenho saudade da idéia que eu tinha. A de achar que era tu o personagem da canção do Snoopy.


Vanessa L (2009)

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